Educação remota emergencial não é EaD

Nos últimos dias, a Co11ectada Renata Costa concedeu algumas entrevistas e até escreveu um artigo falando sobre educação remota emergencial, assunto que vem sendo bastante questionado sobre a possibilidade de ser considerada educação a distância. Pois bem, resolvi procurar a Renata “pessoalmente” e bater um papo com ela sobre essa e outras dúvidas que você confere a seguir.


Afinal, Renata, educação remota emergencial é, ou não é, educação a distância?

Renata Costa: Não é! Existe diferença e a principal delas é a presencialidade, que é a maior vantagem da educação remota. Este modelo  é configurado com base nos princípios da educação presencial. Contudo, professores e alunos deixam de coexistir num mesmo espaço físico para coexistirem em um ambiente virtual, que muitas vezes são plataformas não institucionais, e por meio do qual é feita a confirmação moderada da presencialidade dos alunos. Essa configuração é uma prática temporal, em que se respeita a carga horária diária da disciplina, com conteúdos ministrados pelo professor e atividades, em sua maioria, síncronas. Isso permite maior proximidade com o aluno e entre eles também. Já a educação a distância (EaD) está pautada em um processo de ensino e aprendizagem mediado por tecnologia, com apoio de tutores, de forma atemporal, com carga horária diluída em diversos recursos midiáticos de interação que compõem as atividades síncronas (todos juntos ao mesmo tempo) e assíncronas (cada um no seu tempo), as quais estão disponibilizadas em um Ambiente Virtual de Aprendizagem (AVA) institucional.

O uso de Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) garante qualidade na educação remota? 

RC: O uso de qualquer ambiente virtual nem sempre indica qualidade no processo de ensino e aprendizagem, independentemente de modalidade, modelo educacional ou da atual situação emergencial em que estamos. Vai depender da forma como ele é explorado pelos educadores, alunos e até pela instituição de ensino. Os Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA’s) são softwares ricos em recursos interativos e comumente utilizados na EaD a fim de minimizar, entre outros fatores, a distância entre as partes envolvidas no processo educacional. Entretanto, muitas instituições de ensino não aproveitam todos os recursos. Observamos o uso do AVA como sendo um repositório de materiais para impressão – algo similar ao departamento de cópias (xerox) da instituição. É necessário considerar que o AVA é o meio mais adequado para a disponibilização de recursos interativos, sendo o facilitador do desenvolvimento de atividades autônomas relacionadas a ensinar e aprender. Cabe à instituição de ensino incentivar a utilização adequada do AVA e de seus recursos (e de outras mídias) de forma a torná-lo uma extensão da sala física (e da própria instituição) e ao professor, com o apoio de uma equipe multidisciplinar, criar alternativas interativas de aprendizagem a fim de não se limitar ao uso destes ambientes somente como sendo repositórios de conteúdo.

A exploração de todos os recursos dos AVA’s exigiria, então, uma melhor preparação dos professores…

RC: Considerando a situação emergencial que estamos vivenciado, é perceptível que algumas instituições e professores do presencial não estão, minimamente, preparados para a educação mediada pela tecnologia. Ainda assim, todos eles estão se esforçando e fazendo o que podem para garantir que o processo de ensino e aprendizagem aconteça. E estão de parabéns por isso! Até porque, precisamos considerar também todo um contexto anterior a esta crise: educação presencial guiada por métodos tradicionais, tecnologia vista como um fim e não como um meio e alguns professores sem habilidades e competências digitais. De uma hora para outra, os professores se tornaram multitarefas e estão fazendo milagres. Agora, eles são designer gráfico e instrucional, editor de vídeo, autor, conferencista…. Desenvolveram habilidades digitais em tempo recorde e merecem reconhecimento por isso, de todos nós! É desafiador mudar o formato de suas aulas a fim de torná-las mais interativas – e não produtivas. Precisamos compreender que nem sempre produção tem a ver com qualidade e que o enriquecimento da aprendizagem por meio da interação está relacionado com as diversas formas de ensinar, sejam elas provindas de metodologias, recursos ou tecnologia.

E as instituições de ensino, como podem apoiar a educação remota emergencial?

RC: É fundamental que as instituições de ensino estabeleçam diretrizes personalizadas para as aulas no modelo remoto, assim como são criadas nas modalidades presencial ou a distância. Em virtude do caráter emergencial, espera-se que as instituições forneçam apoio tecnológico, regras bem objetivas e definam o formato do modelo remoto de aula. Não é recomendável a livre exploração da EaD, pois, como mencionado anteriormente, é uma modalidade que se difere em diversos aspectos do modelo de educação remota emergencial. Além disso, é importante considerar que o professor do presencial, muitas vezes, não está acostumado com a educação on-line ou sequer utiliza a tecnologia em suas aulas presenciais. Ele deve, portanto, receber instruções prévias do que a instituição considera essencial na sua aula remota. Essas definições ajudam a preservar a própria imagem institucional, garantem a continuidade dos cursos, e ainda fortalece a confiabilidade do professor diante do novo desafio que é ensinar remotamente.

Você comentou, no início, que a maior vantagem da educação remota é a presencialidade. Por quê?

RC: Parece contraditório, em se falando de educação on-line, por meio de tecnologia, que até se assemelha à EaD nesse aspecto de espaço. Mas é uma vantagem porque professores e alunos estão juntos, “olhando nos olhos” e sentindo uns aos outros. Isso cria uma carga de empatia, de afetividade, que o próprio Paulo Freire já defendia. Não é que isso não exista na EaD, afinal há o tutor e toda uma equipe dentro de um polo presencial, mas o aluno não está ligado, diretamente, ao professor. Então, a presencialidade, na educação remota, ou seja, essa “presença” do professor mesmo que virtualmente, acompanhando e orientando o aluno faz muita diferença no processo de aprendizagem. É acolhedor, ainda mais num momento crítico como este em que estamos.


Renata Costa é Mestre em Design e Expressão Gráfica (UFSC), especialista em Tecnologias Interativas Aplicadas à Educação (PUCSP) e em Formação de Professores (UNINOVE) e graduada em Tecnologia (FEPI). Com quase 15 anos de experiência em educação a distância, já atuou como diretora, coordenadora, tutora, conteudista e professora conferencista. Atualmente, é professora/palestrante convidada de tecnologias educacionais da pós-graduação da PUC-Campinas; coordenadora interina e professora de graduação dos cursos de tecnologia da Braz Cubas; palestrante; conteudista de TI e consultora de educação a distância.


 

1 comentário em “Educação remota emergencial não é EaD

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