Teorias de Aprendizagem de Adultos – Transformacional e Experiencial

Dando continuidade às Teorias de Aprendizagem de Adultos, neste post eu falo sobre outras duas: a Aprendizagem Transformacional e a Aprendizagem Experiencial. Já ouviu falar sobre elas?

 

Aprendizagem Transformacional

Criada por Jack Port Mezirow em 1978, a Teoria da Aprendizagem Transformacional está baseada na crença de que o aprendizado ocorre quando um novo significado é transmitido a uma experiência anterior ou um antigo significado é reinterpretado e visto sob uma nova ótica. Esse processo de “transformação de perspectiva”, como define Mezirow (1991), possui três dimensões: psicológica (mudanças na compreensão de si), convictiva (revisão dos sistemas de crenças) e comportamental (mudanças no estilo de vida).

Segundo essa teoria, existem três estágios de aprendizado:

  1. Perceber que o conhecimento prévio estava incorreto ou que faltava alguma informação importante. É o que Mezirow chama de “dilema desorientador” que é desencadeado por uma alguma crise ou transição de vida, embora também possa resultar de um acúmulo de ressignificações durante um período de tempo.
  2. Identificar a relevância pessoal e quais serão as vantagens obtidas por esse novo aprendizado.
  3. O pensamento crítico que permite que os participantes cheguem às próprias conclusões.

Uma característica importante da aprendizagem transformacional é que os adultos mudam suas referências ao longo do tempo, refletindo criticamente sobre suas suposições e crenças. Com isso, implementam, conscientemente, novas maneiras de definir seus mundos.

Uma condição definidora de ser humano é que temos que entender o significado de nossa experiência. Para alguns, qualquer explicação assimilada acriticamente por uma figura de autoridade será suficiente. Mas, nas sociedades contemporâneas, devemos aprender a fazer nossas próprias interpretações, em vez de agir de acordo com os propósitos, crenças, julgamentos e sentimentos dos outros. Facilitar esse entendimento é o objetivo principal da educação de adultos. A aprendizagem transformacional desenvolve o pensamento autônomo. (MEZIROW, 1997, p.5)

 

Aprendizagem Experiencial

Teoria da Aprendizagem Experiencial afirma que a essência da aprendizagem de adultos é dar sentido às experiências. Aprendemos melhor quando “colocamos a mão na massa” e encontramos ou damos significado para isso. Embora grande parte da aprendizagem experiencial possa ocorrer naturalmente na vida diária, ela também pode ser criada ou estruturada para orientar as pessoas através de uma experiência e maximizar os resultados que se pretende alcançar.

David A. Kolb desenvolveu o ciclo da aprendizagem experiencial que descreve como adquirimos e processamos a informação e, finalmente, aplicamos o conhecimento:

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  1. Experiência Concreta (aprendizagem pela experiência): as pessoas aprendem por estarem envolvidas em uma atividade ou experiência e por se lembrarem de como se sentiram. Esta é a principal maneira que aprendemos e pode servir como a base de todas as outras etapas do ciclo de aprendizagem.
  2. Observação Reflexiva (aprendizagem pelo processamento): usando uma experiência concreta como base, as pessoas refletem sobre a experiência para obter mais informações ou aprofundar sua compreensão da experiência.
  3. Conceitualização Abstrata (aprendizagem pela generalização): com base no reflexo de uma experiência, as pessoas, consciente ou subconscientemente, teorizam, classificam ou generalizam sua experiência como um esforço para gerar novas informações. Esse estágio serve para organizar o conhecimento, permitindo ver o “todo” e identificar regras e padrões. É uma etapa é crítica que possibilita transferir os conhecimentos de um contexto para outro.
  4. Experimentação Ativa (aprendizagem pela atuação): as pessoas aplicam ou testam sua percepção recém-adquirida no mundo real. A aplicação da própria aprendizagem é uma nova experiência e, assim, o ciclo começa novamente.

Aprender é processo pelo qual o conhecimento é criado  através da transformação da experiência. (KOLB, 1984)

 

Praticando as teorias

O que essas duas teorias nos ensinam é que adultos aprendem melhor por meios de metáforas, mapeamentos de conceitos, simulações, demonstrações, estudos de caso, histórias de vida (não é a toa que muitos treinamentos e cursos on-line exploram bem a técnica do storytelling), atividades que estimulam a reflexão, a tomada de decisão, a resolução de problemas e a descoberta, levando em consideração, sempre, suas experiências prévias.

Também é importante criar e estimular um ambiente de confiança e cuidado, porque isso facilita o desenvolvimento de relações interpessoais. Essas relações promovem o denominado “aprendizado cinestésico” que provoca respostas emocionais, resultando, assim, em experiências que dificilmente serão esquecidas. Aliás, é sempre bom ressaltar que as emoções têm uma influência substancial sobre os processos cognitivos dos seres humanos. Todas as funções que participam do processo de aprendizagem (percepção, atenção, memória, raciocínio e resolução de problemas) são, de alguma maneira, moduladas pelas emoções.

Essas duas teorias também reforçam a necessidade de se criar oportunidades para que o adulto “coloque a mão na massa”, proporcionado o suporte e a estrutura necessários para que ele vivencie e aplique o conhecimento adquirido e, além disso, reflita sobre essa experiência e tire suas próprias conclusões.

Conte-me e eu esqueço. Mostre-me e eu apenas me lembro. Envolva-me e eu compreendo. (Confúcio)

Por fim, vale ressaltar que cada pessoa aprende de uma forma e tem suas preferências com relação ao melhor método ou recurso para a aprendizagem e isso deve ser considerado em qualquer iniciativa de desenvolvimento pessoal e profissional.


Kolb, D.A. (1984). Experiential Learning: Experience k the Source of Learning and Development. Englewood Cliffs, NJ: Prentice Hall.

MEZIROW, J. (1991). Dimensões transformadoras da aprendizagem de adultos. São Francisco, CA: Jossey-Bass.

MEZIROW, J. (1997), Transformative Learning: Theory to Practice. New Directions for Adult and Continuing Education, 1997: 5-12. https://doi.org/10.1002/ace.7401


Foto destaque: Luisella Planeta Leoni por Pixabay

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