Há tempos se discute o fato de que a educação contemporânea não comporta mais o modelo tradicional e isso requer um novo comportamento de todos os envolvidos no processo de ensino e aprendizagem. Essa transição, que em alguns casos, já vinha acontecendo gradualmente, tornou-se “emergencial” com a pandemia. E um dos vários desafios que professores, alunos, gestores e as próprias instituições de ensino ainda estão enfrentando é como tornar as aulas online mais interessantes, engajando os alunos para um aprendizado efetivo? Será que isso é mesmo possível?
O tema do sétimo episódio foi inspirado numa conversa que tive com a jornalista e professora Selma Vital sobre criatividade na educação, especialmente em tempos de aulas online. Por isso, solicitei que ela iniciasse a discussão falando sobre a relação da criatividade com a aprendizagem significativa. Em seus termos, uma das bases da criatividade é a flexibilidade, e isso tem a ver com estar aberto à mudança.
Criatividade tem a ver com você “insurgir” contra o que está estabelecido. E quanto mais você usa, mais você tem.
Zelão Teixeira, que foi meu professor de História na oitava série – e a quem me referi em um artigo sobre a importância do erro no processo de aprendizagem – , complementou dizendo:
Criatividade surge quando você começa a acessar seus repertórios, ou seja, tudo aquilo que você vivenciou, seus conteúdos, e vai interagindo com outras pessoas.
A esse movimento, Zelão chama de “Mochilas Existenciais”, que vai ao encontro da teoria da aprendizagem significativa proposta por David Ausubel, o qual defende que aprender significativamente é ampliar e reconfigurar ideias já existentes na estrutura mental e com isso ser capaz de relacionar e acessar novos conteúdos.
A professora e coordenadora de área no Ensino Fundamental, Ana Cláudia Araújo de Lima, destacou o potencial criativo dos educadores no atual contexto de educação remota, que vai, justamente, no caminho de acessar os repertórios que cada um já tem e compartilhar com os alunos, valorizando o que eles já sabem.
Convivendo e interagindo com meus alunos por meio dos grupos de WhatsApp, algo que antes da pandemia sequer imaginava participar, percebo o quanto eles têm repertórios próprios que são incríveis e devem ser considerados no momento que eu compartilho os meus repertórios.
Segundo Ana, essa percepção e valorização da realidade de cada estudante ajuda compreender o que eles precisam, de fato, aprender e saber mais.
Para Lidiane Andreati, professora do Ensino Fundamental nas redes municipal e estadual de ensino, a palavra de ordem, no processo de aprendizagem significativa, é reinventar. E compartilhou uma estratégia que já usava no presencial, mas que, com a tecnologia, tornou-se ainda mais efetivo: o uso de mapas mentais para coconstruir o aprendizado dos alunos e o compartilhamento desses mapas nas redes sociais, algo que, antes, nem cogitava usar.
Os alunos gostam dessa exposição e divulgação daquilo que eles mesmos produziram. Isso faz parte do repertório deles.
Lidiane também fez questão de destacar que a atividade docente não é simples por conta das limitações e fragilidades do próprio sistema educacional.
Falta formação e, quando tem, é precária, ou não é continuada. Por isso, a necessidade de reinvenção é ainda maior, e, muitas vezes, sem o apoio da instituição.
Essa discussão prosseguiu fazendo referências à ressignificação do aprendizado; à necessidade de transição de modelos educacionais e de uma educação mais inclusiva e participativa; à inteligência coletiva – “todos sabem alguma coisa”; à Paulo Freire…
Tudo isso de forma leve, porém profunda e reflexiva. Mais um episódio que dá gosto de ver, rever e se inspirar para uma educação transformadora e, sobretudo, libertadora.
Confira na íntegra: